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Conversando
com DaMata
Celso de Lanteuil
World Press Photo, 06 of June 2013
Amigo DaMata,
Para ser franco,
as coisas por aqui continuam muito parecidas
As pessoas pouco
mudaram
Não importa a
nacionalidade, raça, cultura ou credo
Elas não suportam
enxergar a realidade que machuca
Preferem o
nascer do Sol, a primavera que chega
Bebês a sorrir,
namorados a caminhar de mãos dadas
A água da lagoa que
acolhe uma família de patos...
Eu também sou um
pouco assim
Tenho essa
vocação para celebrar e admirar a beleza que existe na vida e no viver
Gosto de
sorrir e cantar
Observar
estrelas, ondas a quebrar
Ver coelhos a
correr nos gramados
Buscar a
felicidade e nela me agarrar
Só que há
ocasiões que é preciso atenção e cuidado naquilo que se diz
E na forma como
vivemos
Em respeito a
vida
Para se
respeitar o próximo
O sucesso de
alguns não é a felicidade de muitos
A paz que acalma
uma nação não é a garantia da tranquilidade de outros povos
O conforto que
experimentamos, a riqueza de uns poucos
Não impede a
vida de seguir numa constante explosão de distorções
Onde a fome, o
medo e o sofrimento são as únicas realidades a se tocar
Por isso lhe
digo amigo
As coisas seguem
bem semelhantes dos tempos em que por aqui viveu
Continuamos a
perseguir bundas, peitos e labios
Paramos diante
do espelho para analisar rugas, celulites, estrias
E o que podemos
fazer para recuperar o tempo que passou apressado
Usamos pulseiras,
brincos, argolas e colares
Pintamos os
cabelos, implantamos cilicone para aumentar os seios
Fazemos
cirurgias para diminuir a barriga e outras loucuras para perder peso
Queremos ter um
pau ainda maior!
Dirigir
Ferraris, usar relógios de 10.000 pounds
Morar em casas
com 20, 50 quartos
Beber vinhos de
3.000 euros
Vivemos assim
naturalmente
Sem perceber, queremos
comer e beber ainda mais
Quando fartos, largamos
a mesa cheia de restos
Sobras que
fariam a festa de tanta gente
Meu amigo, ouve
um tempo em que acreditei que evoluíamos
Certas
liberdades conquistadas, muros derrubados
Transplantes que
nos permitiram viver mais e melhor
O início da conquista
do espaço e os avanços que vieram a reboque
Foram tantas
inovações!
Novos
telescópios, lentes, alimentos hidratados, computadores
Robôts mais
inteligentes, microscópios de alta resolução
Bicicletas
ergométricas, esteiras para mantermos a forma
Satélites,
inerciais, GPS, LCD e mais, muito mais
Houve um momento
que essa tecnologia me seduziu e pensei
Esse homem vai
crescer. Ele vai aprender a equilibrar, a cuidar e a corrigir
Mas volta e meia
descubro que andamos para trás
Parece que
aquela vocação primitiva
Nossa velha
tradição de resolver tudo com sangue nas mãos e coração
Não nos deixa
amadurecer em paz...
Então basta o
acaso para nos fazer olhar de outra forma esse Sol que volta a nascer
Num
piscar, proliferam favelas, valas negras e mais trabalhadores a dormir pelas
ruas
Entregamos num sinal nossa liberdade para pagar um viciado em ódio
Assistimos outros
vícios surgir
A justiça se
apropriar dos nossos direitos
O pior dos
políticos receber honrarias de estado
Uma população
tornar-se refém de políticas assistencialistas
Eleitores serem obrigados
a votar sem convicção
E falar nessas
coisas faz a intransigência surgir
Rompe a fina
parede que separa direitos, que impede o olhar crítico
Logo amigos nos
chamam de legalistas, radicais, inimigos ou pessimistas
Dizem que
estamos cegos porque perdemos os empregos
Porque
levaram nosso fundo de pensão
E nem a
indenização do trabalho conseguimos obter
Mas nossa
intolerância tem direção
Somos assim porque
paramos para observar, ler, analisar, pensar e sentir
Porque não aceitamos
cuecões, mensaleiros, sindicalistas pelegos
Anarquistas, nem
golpistas
Amigo
DaMata, lembra daqueles
sujeitos com duas caras que um dia sobre eles conversamos
Continuam por perto a
defender o sustento deles em cima das nossas mortes
Se cuida aviador,
porque aqui na Terra ainda precisamos de corpos para existir!
Será que algum
dia isso muda?
Photo by Ebrahim Noroozi
1st Prize Observed Portraits Stories,
World Press Photo 2013, Amsterdam
selected among 103.481 images
Somayeh (29) and Rana (3), mother and daughter, living in souther of Iran
They were attacked with acid by husband Amir
Somayed was blinded and Rana lost one of her eyes