A MURALHA QUE RESISTE
Tenho
acompanhado os desdobramentos sobre o desempenho do goleiro do Clube de Regatas
do Flamengo, Alex Muralha, distante do meu Brasil. Comecei quando ainda criança
a acompanhar as discussões em torno do nosso então maravilhoso futebol, pelas
vozes de Nelson Rodriguez, João Saldanha, Luís Mendes e outros tantos grandes
nomes. Bons tempos. Não tenho dúvidas que estou a falar de muita emoção quando
o assunto é futebol, mais ainda, quando o time em questão é o Flamengo.
Ninguém
também discorda da má fase do Muralha, que fique isso bem claro. Mas há outras
coisas que me chamam atenção, quando constato a reação de muitos torcedores e
jornalistas ao se referirem aos recentes erros do goleiro. Tenho percebido um excesso
de indignação que ultrapassa o razoável da análise crítica. Fico com a
impressão que muitos estão atrás de um tipo de vingança, uma revanche oculta,
motivada por um inconsciente carregado de medo, revolta, insegurança e
sentimento de onipotência, alimentados talvez por esse atual estado de degradação sócio e politico
que vivência o nosso povo e país.
Se
analisarmos friamente, o Muralha se assemelha ao perfil técnico de muitos
outros atletas do Flamengo, assim como daqueles dos principais elencos que
assisti atuar em 2017. Precisamos aceitar que o erro é uma contingência da
condição humana. Todos erramos. A cada dia que passa, isso acontece com cada um de nós,
até que o próximo dia se inicie. E é através desse processo de acerto e erro, que
aprendemos a errar menos em nossas vidas. Crucificar um atleta que luta para se
reencontrar, não me parece produzir nenhum resultado positivo, especialmente num
momento tão crítico em que essas duas competições se encontram.
Muralha está tentando voltar a atuar em
nível de alto rendimento e no patamar que o levou a ser recentemente chamado
pelo técnico Tite, para fazer um teste na seleção nacional. Suportar as
pressões que o Alex Muralha vem enfrentando é para poucos. Pelo seu modo de
resistir, podemos concluir que se trata de um brasileiro “lutador”, aquele que bem
traduz o jeito rubro negro de ser.
Após
um ano com muitas competições e de um extenuante e valente percurso, é hora da
torcida, jogadores, técnico, comissão técnica e diretoria do clube, de estarem unidos, pois me parece que
seria um grande desperdício ignorar os erros e acertos feitos ao longo desse ano.
Num
país como o nosso, em que para se vencer pelo trabalho honesto existe sempre diante de nós um caminhar difícil,
doloroso e sofrido, penso que o que muitos destes analistas e “flamenguistas” de coração precisam se empenhar a fazer,
é de melhor tentar compreender as pessoas.