REPÚBLICA DOS BRUZUNDANGAS
Celso de
Lanteuil
Porto, 3
de abril de 2017
Em homenagem ao amigo Josil
Deslandes, que me presenteou com este precioso livro e me apresentou ao
inteligente Lima Barreto, autor de Os Bruzundangas (Ed. Garnier, 1988, obra
originalmente editada em 1923, por Jacintho Ribeiro dos Santos).
A
República dos Bruzundangas é o país das Trapalhadas. Um país cheio de vícios e
cacoetes, confuso, afônico, sem rumo, que segue asfixiado e asfixiando pessoas
e sonhos.
Um país
que perde o ar para aqueles senhores que costumam gritar do alto da sacada,
como se mandachuva fossem, e para o senhor “conselheiro”, que é o assessor do
adjunto do subchefe, aquele que nos põe a correr atrás de um sonho que não
conseguimos entender, um qualquer acostumado a dar ordens e sorrir.
Mas, se
nessa terra falta a boa semente da cidadania, também floresce a mente daninha,
que sorrateira cresce criando filhotes aos tantos. São os trapalhões da ordem e
do progresso, que de branco, azul, verde e amarelo, nada tem. São os que só
dizem amém para fazer o próprio bem e nos deixam os aborrecimentos, o esforço e
as dores.
A
República dos Bruzundangas é amável, dócil e solidária, nas aparências. Lá se
diz I love you, Apareça para o jantar,
Você faz a diferença, mas na primeira esquina que se dobra, já podemos
ouvir Ele não passa de uma fraude, Aquele
não vale o sapato que calça!
Os
Bruzundangas são assim, essa mistura exótica que costuma se alimentar com uma
fome de mil dias. Eles devoram tudo o que veem. Batata, habitação, terra, ouro,
emoção, água, lágrima, oração e sorriem de barriga cheia, na frente daqueles
que sonham com um pedaço de pão.
Os
Bruzundangas são mesmo autênticos, são da família, da paróquia, unidos sempre
na alegria, na celebração e na vitória, e se proliferam de mansinho, sem se
fazer notar. São eles que se permitem ser o que são, somente eles. Contudo, quando na
derrota do vizinho, ou na dor de um amigo e na perda do emprego de um colega de repartição, bem, aí é uma outra
história…