terça-feira, 28 de novembro de 2017

A MURALHA QUE RESISTE


A MURALHA QUE RESISTE
Portugal, 28/11/2017
Celso de Lanteuil

Tenho acompanhado os desdobramentos sobre o desempenho do goleiro do Clube de Regatas do Flamengo, Alex Muralha, distante do meu Brasil. Comecei quando ainda criança a acompanhar as discussões em torno do nosso então maravilhoso futebol, pelas vozes de Nelson Rodriguez, João Saldanha, Luís Mendes e outros tantos grandes nomes. Bons tempos. Não tenho dúvidas que estou a falar de muita emoção quando o assunto é futebol, mais ainda, quando o time em questão é o Flamengo.

Ninguém também discorda da má fase do Muralha, que fique isso bem claro. Mas há outras coisas que me chamam atenção, quando constato a reação de muitos torcedores e jornalistas ao se referirem aos recentes erros do goleiro. Tenho percebido um excesso de indignação que ultrapassa o razoável da análise crítica. Fico com a impressão que muitos estão atrás de um tipo de vingança, uma revanche oculta, motivada por um inconsciente carregado de medo, revolta, insegurança e sentimento de onipotência, alimentados talvez por esse atual estado de degradação sócio e politico que vivência o nosso povo e país.

Se analisarmos friamente, o Muralha se assemelha ao perfil técnico de muitos outros atletas do Flamengo, assim como daqueles dos principais elencos que assisti atuar em 2017. Precisamos aceitar que o erro é uma contingência da condição humana. Todos erramos. A cada dia que passa, isso acontece com cada um de nós, até que o próximo dia se inicie. E é através desse processo de acerto e erro, que aprendemos a errar menos em nossas vidas. Crucificar um atleta que luta para se reencontrar, não me parece produzir nenhum resultado positivo, especialmente num momento tão crítico em que essas duas competições se encontram.

Muralha está tentando voltar a atuar em nível de alto rendimento e no patamar que o levou a ser recentemente chamado pelo técnico Tite, para fazer um teste na seleção nacional. Suportar as pressões que o Alex Muralha vem enfrentando é para poucos. Pelo seu modo de resistir, podemos concluir que se trata de um brasileiro “lutador”, aquele que bem traduz o jeito rubro negro de ser.

Após um ano com muitas competições e de um extenuante e valente percurso, é hora da torcida, jogadores, técnico, comissão técnica e diretoria do clube, de estarem unidos, pois me parece que seria um grande desperdício ignorar os erros e acertos feitos ao longo desse ano.

Num país como o nosso, em que para se vencer pelo trabalho honesto existe sempre diante de nós um caminhar difícil, doloroso e sofrido, penso que o que muitos destes analistas e “flamenguistas” de coração precisam se empenhar a fazer, é  de melhor tentar compreender as pessoas.